segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cirandinha de Amor.




E no meio de tanta poeira,
de tanta areia no chão e no ar,
de tanto frio por fora e por dentro,
todos dançavam incessantemente.

O cantor, desdentado como metade dos que frequentavam a casa,
usando rasteirinha de couro, como todos da casa,
começou a cantar a música.
E todos deram as mãos,
fizeram aquele circúlo mal feito
e tão bem feito ao mesmo tempo.
Começaram a tal da ciranda.
Cirandaram
e sorriam
e gargalhavam
e cantavam
numa sintonia impressionante, como se tudo tivesse sido ensaiado antes.

Claro, a música era sobre o amor:
"E sem saber direito a hora e o que fazer
Eu não encontro uma palavra para te dizer
Ah! se eu fosse você eu voltava pra mim de novo

E uma coisa fique certa, amor
A porta vai estar sempre aberta, amor
O meu olhar vai dar uma festa, amor
Na hora que você chegar"


E mesmo cheia de devaneios na cabeça,
a menina que sempre estava fora das cirandas percebeu
que não só a música celebrava o amor.
A ciranda inteira celebrava o amor.
A dança inteira celebrava o amor.

Não apenas pelo fato de que isso era perceptível pelo ar,
mas pelo pulsar inexplicável do peito,
pelo arregalar  instantâneo dos olhos,
pelo sorriso que se abria cada vez mais involuntariamente.
E, entre o arrastar dos pés,
da coro sem fim,
das saias esvoaçantes
e das mãos levantadas e unidas,
todo o lugar celebrava o amor.

E como se ninguém estivesse percebendo,
a mesma menina olhou bem ao fundo e notou que,
no centro de toda aquela baderna organizada e feliz,
no centro do centro daquelas rodas que giravam sem parar,
existia um casal que se beijava no ritmo de tudo aquilo.
e se abraçavam como se fosse o fim do mundo.
se acarinhavam como se fosse o fim do mundo.

E toda aquela movimentacão ao redor daquele casal estático
fez com que a conclusão fosse instantânea.

Naquela noite tudo e todos celebravam o amor.
o amor venceu a loucura,
venceu a bebedeira,
venceu a insanidade. 



marilia bilu.





 


 ((( http://www.youtube.com/watch?v=Uj69QLaRWPg )))





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