quinta-feira, 20 de março de 2014

Discurso - Colação de Grau - História - UFG

     Na ultima terça feira, dia 18 de Março, eu colei grau e agora sou “diplomada”, “licenciada em História”, “Historiadora”. Hahaha. Aqui vai meu discurso pra ficar registrado. Beijos! 






Queridos pais, professores e amigos, 

Por quatro anos tivemos como principal tema de estudos o passado. E no dia de hoje, ao fim dessa caminhada, fazemos a mesma coisa. Continuamos aqui, analisando o homem no tempo. Acontece que hoje é diferente. Hoje o recorte temporal é bem delimitado e os agentes estudados somos nós mesmos. Hoje, não olharemos pro passado de forma imparcial, mas com um grande aperto no coração e lágrimas nos olhos. Essas lágrimas não são de tristeza, mas sim de gratidão por termos chegado até aqui.
Os agradecimentos são infinitos. Gostaríamos de agradecer aos pais, que se mantiveram firmes em seus papéis de apoio: obrigado por terem sido os despertadores mais eficientes, obrigado por não nos terem deixado desistir, obrigado pela força e pelo abraço de cada dia, pelo dinheiro do ônibus, pelo dinheiro da gasolina do carro ou pelo dinheiro do lanche. Obrigado pelos ouvidos que se concentravam em nós na hora em que chegávamos em casa empolgados, contando a nova velha que o professor tinha explicado. Obrigado por entenderem a nossa alegria ao falar de tudo o que acontecia na faculdade. Nos desculpem por qualquer falha, por qualquer falta de carinho devido a tantas provas e tanto medo de não sermos capazes de atingir as expectativas. 
Obrigado por ainda apoiarem essa faculdade que tomou de vocês vossos filhos. Essa faculdade que nesses quatro anos foi nossa casa por mais tempo que nossos verdadeiros lares. Aqui vai nosso muito obrigado a toda essa estrutura que nos faz termos orgulho de sermos alunos. UFG, foi com muita honra que entramos por seus portões todos esses anos, e em todas essas vezes, um agradecimento era pensado inconscientemente.
Um agradecimento por nos proporcionar um estudo num ambiente tão bom. Por  proporcionar professores maravilhosos que fizeram e ainda fazem nos sentirmos orgulhosos (ainda que um pouco burros e incompetentes) por termos estudado aqui. Fiquem sabendo que é por conta de vocês que muitos de nós seguiremos o mesmo caminho que os seus. Lutaremos pelos seus direitos e falaremos com o peito cheio que ser estudante de história não é querer ser “apenas” um professor. Será uma honra, honra que nem se compara caso cheguemos perto do que vocês são para nós. Vocês viraram família, um espelho e metade do aperto que sentimos no peito nesse momento, se deve ao fato de termos que abandonar vocês. Nos desculpem por qualquer grosseria, alunos serão sempre alunos, e mesmo que algumas dificuldades tenham cruzado nossos caminhos, sempre pediremos “bença”. Perdoem-me o palavreado, mas vocês são foda.
E no meio de tanto agradecimento, vou deixar a modéstia de lado, e vou celebrar o mérito que nos cabe. Obrigado a nós mesmos. Obrigado por termos conseguido. Parabéns por termos conseguido. Parabéns por termos estudado tanto, lido tantas vezes o mesmo texto, criado mil teses, respostas, teorias diferentes, e ainda assim tirar 2 na prova. Parabéns por termos conseguido levar a diante, esse curso que “é fácil de entrar, mas é dificil de sair” e ainda assim ter a sensação que não sabemos nada. Parabéns a vocês, colegas de classe que se mostraram seres humanos esplêndidos. Seres humanos que apesar das tantas dificuldades do curso, ainda conseguiam chegar em casa e segurar as pontas. Pontas de tudo quanto é tipo: aqui temos filhas que cuidam dos pais e que sentem o maior amor e orgulho disso. Fiquem sabendo, pais e mães, que nossos olhos brilham quando falamos de vocês. Aqui existem pessoas que tomam conta dos avós e até existem as que tomam conta dos avós dos outros. Aqui existem mulheres que chegaram mulheres e saíram mamães. Mães de filhos que se tornaram  “mascotes” da sala. E da mesma forma que vidas foram criadas, vidas foram perdidas. Um abraço apertado aos que perderam a mãe, aos que perderam o pai, ou aos que perderam os avós e ainda assim não perderam a vontade de viver e continuaram conosco na luta do dia-a-dia. Essa vitória é nossa, e presentes ou não, todos estão muito contentes e orgulhosos por ela. Aqui também vai um beijo para os amigos e amigas que nos acompanharam durante todo esse tempo e não estão aqui conosco. Na vez de vocês estaremos aqui também, com um sorriso estampado no rosto. 
E agradecemos o destino, aos céus, os ventos, o pré-determinado ou a qualquer coisa do tipo por termos escolhido História, a ciência que, modéstia parte, é a mais bela de todas. A que insere em si mesma todas as outras e que faz do presente um fator determinante para o estudo de qualquer fenômeno histórico. As pontes entre passado e presente são nossa paixão e tentar entender porque estamos aqui, analisando toda uma série de eventos históricos virou hábito. Obrigado à História que nos fez ficar chatos. Chatos de galochas, que a todo e qualquer comentário a vontade de discutir se torna imensa. Sentar numa mesa de bar depois de alguns anos de curso, chegou a ser constrangedor. “A culpa é dos portugueses”. “As colônias de povoamento e de exploração” “A idade das Trevas” - toda vez que alguém fala isso, um historiador morre, nem que seja de desgosto. Obrigado a esse curso que nos fez enxergar as coisas com mais clareza. Obrigado, simplesmente, por ter nos ensinado a ler direito. E por fim, obrigado ao curso por ter nos tornado mais humanos, por, depois de tanto ler a historia dos vencidos, acabar ficando mais ao lado deles do que dos vencedores. 
Daqui pra frente não tem o que se falar. Aprendemos muito bem que falar de futuro não é algo que se insere nesse curso, e nem em curso algum. Muitos já estão seguindo o caminho do mestrado, outros da docência e outros da vida bohêmia. Independente de qual tenha sido o caminho escolhido para ser seguido agora, o que fica é a semelhança de ter escolhido o mesmo caminho que já foi trilhado. Esses quatro anos formaram uma família. Uma família de amigos, professores e colegas que, mesmo que daqui pra frente a coisa fique feia, ainda assim continuará sendo uma família. Falando em coisa feia, estamos torcendo para que a vida de adulto não seja tão ruim quanto falam por aí. Acabou, gente. Acabou a faculdade, acabou o desespero, acabaram-se as provas, acabaram-se os cafés de todos os intervalos, acabaram-se os abraços diários e fofocas de todo santo dia.  Acabou a raiva de não ter papel higiênico no banheiro. Acabaram-se as contas das xeroxs dos textos que nem nunca lemos e acabou a tinta do marca texto que grifávamos todos os que foram lidos. Acabou aquele sentimento de encanto de quando saíamos de uma aula bem dada, mas fica o sentimento de encanto, gratidão e orgulho por termos terminado o curso. A saudade e o conhecimento, que não para por aqui, também ficam. Que esse conhecimento que já temos seja suficiente para encaramos a vida de forma leve e que a leveza da juventude que temos agora permaneça para os problemas do futuro. Não sejamos pessimistas, pois afinal de contas, agora podemos dar a resposta aos que sempre nos dizem: “Nossa, meu sonho é estudar história.” - e a resposta é “pois é, acabamos de realizar o nosso.” Que venham os próximos! 




xx, Marilia Bilu. 







terça-feira, 7 de janeiro de 2014

OH MY GOD!





Você acredita em Deus? 
Quem é seu Deus? 

Ela odeia esse tipo de pergunta, porque no fundo, no fundo se sentia incrivelmente fútil de não saber utilizar argumentos racionais para respondê-las. Sabia que gaguejaria. Sabia que ficaria vermelha. Sabia que se sentiria uma idiota. 
Mas também sabia que acreditava em Deus. Sabia que Ele tomava conta dela todos os dias. Que Ele a guiava, a olhava, não a deixava em perigo e fazia o seu corpo ser blindado. Ela era blindada, de verdade. 
Porém, ela não sabia responder quem seu Deus era. Não sabia se era a própria natureza, não sabia se era o barbudão tipico da cultura ocidental, não sabia se era aquela força dentro dela. Não sabia mesmo. Mas ela sentia que Deus existia, e a gratidão e o amor que ela sentia por Ele era maior que muito sentimento da Terra. 
E depois de tanto ler e de tanto estudar, foi se sentindo cada vez mais distante dele. Não dele. Mas da figura que criaram dele desde que ela nasceu e desde muito antes de ela nascer. Ela não sabia mais se acreditava no Exodô, Gênesis e por aí vai. Na verdade, quando ela parava pra tentar analisar, ela roía unha por unha e preferia fechar o Livro do que pensar sobre o assunto. 

E assim ficou vários anos. Quatro, pra falar a verdade. Mas, mesmo com toda essa distância em relação a criação ou não, a elaboração ou não, a realidade ou não dos fatos, de Deus mesmo ela nunca se distanciara. Antes de dormir e na hora de acordar se lembrava dele e em vários minutos do seu dia também. Dele, dele ela nunca se afastara. E toda vez que pensava em Deus, pensava consigo mesma "If you don't see God in all, you don't see God at all". E agradecia. Olhava pra tudo ao seu redor e agradecia. Agradecia pelo simples fato de estar viva e por ver beleza em tudo.

E de tanto encherem o saco, falaram da Igreja. Quantos anos ela não ia numa Igreja? Não dava conta. Não conseguia escutar o que o padre falava, e não conseguia prestar atenção em nada a não ser na mosca que voava, no salto que pisava ou no cabelo que esvoaçava. E quando queriam entrar em contraposição com ela, sempre lhe jogavam na cara que
Você acredita em Deus e não vai na Igreja?
Isso dava mais ódio do que não saber responder quem seu Deus era. Quem eram eles para colocarem uma simples Igreja entre ela e seu Deus? 
Eu não gosto de Igreja. Eu não gosto de padres. Eu não acho que ele seja puro o suficiente pra estar lá na frente falando de coisas que eu já estou cansada de saber. E outra: ele não tem pecados? E ele não pode se casar porque? A Igreja Católica tem cada coisa, viu.

Ela sempre respondia isso. Até que se deparou com dois argumentos, que mesmo que não estejam encaixados na esfera do "racional", entraram dentro de sua cabeça e nunca mais saíram:
Você vai pra faculdade e escuta seu professor falando por horas de uma coisa que ele estudou. Porque não o padre?
E depois que
Você não vai na casa de Deus e quer que ele venha na sua?



Escutava e jogava essas perguntas foras. 
Até que se lembrou delas de novo e decidiu voltar a freqüentar a Igreja.
Entrou.
Na primeira música caiu num choro tão frenético que ficou assustada.
Pediu perdão por já ter colocado a existência de Deus e de Cristo em cheque.
Pediu perdão por ter falado mal da Igreja, ao mesmo tempo vendo que simplesmente tinha crescido. Amadurecido. Agora conseguia ficar sentada no banco, calada, escutando o padre falar, assim como fizera a vida inteira na escola e na Faculdade. 
Acompanhou tudo o que ele falava, e chorava mais ainda.
Agradeceu. Agradeceu com toda sua força por ter sido tão bem recebida na casa de Deus. Se sentiu a filha pródiga. 
Saiu de lá leve, leve.

Entrou no carro, voltou pra casa e pensou que existem coisas demais que o homem jamais conseguirá explicar, que são geralmente as mesmas que sempre causarão riso e até discórdia nas mesas de bar ou nas reuniões mais sérias. 

Ela deu de ombros. Ela acreditava e pronto. Ela sentia. E agradecia. E mais uma vez repetia
"If you don't see God in all, you don't see God at all".



marilia bilu.