sábado, 2 de julho de 2011

Conto sem título e sem desfecho.

No fim de semana em que os pais viajavam ela era produtiva.
Cozinhava, lavava, trabalhava. Virava a legítima dona de casa. Se sentia a dona de casa. Mas isso era durante o dia. De dia dona de casa, a noite outra coisa não definível. Infelizmente não definível, até ela mesma achava-o.
Depois da novela, ela vai pra sacada e aprecia a vista da cidade. Acende o cigarro e pensa, pensa em tudo. E de repente, o celular silencioso começa a tocar a tirando de todo o seu universo interior. A conversa começa bem, calma, mas ao mesmo tempo constrangida mesmo sem entender o porque desse constrangimento. Mas ele está lá, em ambas partes da ligação. E claro, ele tinha que começar a falar as babaquices que ela tanto odiava. Não sabia se as odiava porque eram mágicas demais ou verdadeiras demais. Quem sabe verdadeiramente mágicas. E tudo começa a acontecer muito rápido, a raiva dela sobe muito rápido, a fala dele sobe muito rápido. E nessa guerra de flechas, o sentido da conversa se perde mais uma vez, a deixando mais uma vez sem saber como agir e principalmente como pensar - os paradoxos dele eram demais pra cabeça dela. Ou pro coração, ninguém sabe. A calma volta a conversa. O constrangimento, dessa vez ainda maior, também. Conversa nada. Não tinha mais conversa e os dois sabiam disso. Piadinha dali, risadinha de cá e, de repente, um acontecimento repentino que precisa tirar um deles da conversa. 
Nenhum dos dois sabe o motivo de tudo isso. Ele imagina, ela suspeita. 
Mas, mesmo ela não querendo admitir e ele não querendo acreditar, os dois sabiam que o outro estava do lado de lá, sentindo e pensando a mesma coisa. Raciocínios sem fim e hipóteses mil para todas as partes da conversa. Ela foi fumar outro cigarro e ele foi fumar outro charuto, cada um com sua música. 
Dormiam. Acordavam. Ingeriam a conversa. Digeriam a conversa. Se falavam e decidiam se encontrar. E era maravilhoso, mesmo ela sabendo e ele não, que se sentia cada vez mais saturada daquilo: ela sabia que sua vida não pararia por causa dele. 
Disseram-me que conto é uma história sem desfecho.
Esse aqui é um.