terça-feira, 7 de janeiro de 2014

OH MY GOD!





Você acredita em Deus? 
Quem é seu Deus? 

Ela odeia esse tipo de pergunta, porque no fundo, no fundo se sentia incrivelmente fútil de não saber utilizar argumentos racionais para respondê-las. Sabia que gaguejaria. Sabia que ficaria vermelha. Sabia que se sentiria uma idiota. 
Mas também sabia que acreditava em Deus. Sabia que Ele tomava conta dela todos os dias. Que Ele a guiava, a olhava, não a deixava em perigo e fazia o seu corpo ser blindado. Ela era blindada, de verdade. 
Porém, ela não sabia responder quem seu Deus era. Não sabia se era a própria natureza, não sabia se era o barbudão tipico da cultura ocidental, não sabia se era aquela força dentro dela. Não sabia mesmo. Mas ela sentia que Deus existia, e a gratidão e o amor que ela sentia por Ele era maior que muito sentimento da Terra. 
E depois de tanto ler e de tanto estudar, foi se sentindo cada vez mais distante dele. Não dele. Mas da figura que criaram dele desde que ela nasceu e desde muito antes de ela nascer. Ela não sabia mais se acreditava no Exodô, Gênesis e por aí vai. Na verdade, quando ela parava pra tentar analisar, ela roía unha por unha e preferia fechar o Livro do que pensar sobre o assunto. 

E assim ficou vários anos. Quatro, pra falar a verdade. Mas, mesmo com toda essa distância em relação a criação ou não, a elaboração ou não, a realidade ou não dos fatos, de Deus mesmo ela nunca se distanciara. Antes de dormir e na hora de acordar se lembrava dele e em vários minutos do seu dia também. Dele, dele ela nunca se afastara. E toda vez que pensava em Deus, pensava consigo mesma "If you don't see God in all, you don't see God at all". E agradecia. Olhava pra tudo ao seu redor e agradecia. Agradecia pelo simples fato de estar viva e por ver beleza em tudo.

E de tanto encherem o saco, falaram da Igreja. Quantos anos ela não ia numa Igreja? Não dava conta. Não conseguia escutar o que o padre falava, e não conseguia prestar atenção em nada a não ser na mosca que voava, no salto que pisava ou no cabelo que esvoaçava. E quando queriam entrar em contraposição com ela, sempre lhe jogavam na cara que
Você acredita em Deus e não vai na Igreja?
Isso dava mais ódio do que não saber responder quem seu Deus era. Quem eram eles para colocarem uma simples Igreja entre ela e seu Deus? 
Eu não gosto de Igreja. Eu não gosto de padres. Eu não acho que ele seja puro o suficiente pra estar lá na frente falando de coisas que eu já estou cansada de saber. E outra: ele não tem pecados? E ele não pode se casar porque? A Igreja Católica tem cada coisa, viu.

Ela sempre respondia isso. Até que se deparou com dois argumentos, que mesmo que não estejam encaixados na esfera do "racional", entraram dentro de sua cabeça e nunca mais saíram:
Você vai pra faculdade e escuta seu professor falando por horas de uma coisa que ele estudou. Porque não o padre?
E depois que
Você não vai na casa de Deus e quer que ele venha na sua?



Escutava e jogava essas perguntas foras. 
Até que se lembrou delas de novo e decidiu voltar a freqüentar a Igreja.
Entrou.
Na primeira música caiu num choro tão frenético que ficou assustada.
Pediu perdão por já ter colocado a existência de Deus e de Cristo em cheque.
Pediu perdão por ter falado mal da Igreja, ao mesmo tempo vendo que simplesmente tinha crescido. Amadurecido. Agora conseguia ficar sentada no banco, calada, escutando o padre falar, assim como fizera a vida inteira na escola e na Faculdade. 
Acompanhou tudo o que ele falava, e chorava mais ainda.
Agradeceu. Agradeceu com toda sua força por ter sido tão bem recebida na casa de Deus. Se sentiu a filha pródiga. 
Saiu de lá leve, leve.

Entrou no carro, voltou pra casa e pensou que existem coisas demais que o homem jamais conseguirá explicar, que são geralmente as mesmas que sempre causarão riso e até discórdia nas mesas de bar ou nas reuniões mais sérias. 

Ela deu de ombros. Ela acreditava e pronto. Ela sentia. E agradecia. E mais uma vez repetia
"If you don't see God in all, you don't see God at all".



marilia bilu.