A gordinha sofre. Não adianta vir com o repertório de defesa não, que não adianta. É ponto de referência, sim: - Tá vendo a loira, de blusa azul? - Não, qual? - Do lado da gordinha! - Ah, vi, que que tem?. Sempre assim. As gordinhas são descreditadas de possíveis romances, como podemos ver em: - Sim, seu ex tava lá conversando com uma menina, mas era gordinha, preocupa não. Não adianta querer ver revista de moda, porque nada dá certo. Roupa da moda, a nova sensação do momento, pode correr porque é cilada, Bino. Nenhuma gordinha vai conseguir entrar nessa nova onda.
Não adianta falar que é satisfeita sendo gordinha, porque eu acho meio difícil. Nada serve, nada entra… Fazer compras, que é a melhor terapia do mundo, se torna o pior pesadelo existente. E aí você vai praqueles provadores que têm espelho de todos os lados e aquela luz que, não, não te favorece e devido ao tanto de espelhos você se vê de calcinha e sutiã por todos os ângulos, frente, costa, lado, lado/costas, lado/frente. Terrível! Vontade de pegar as roupas e sair rasgando dentro do provador. E claro, você sai sem roupa nenhuma porque a depressão fica tão grande que nada fica bonito, ainda mais com a nova cara emburrada. Cara emburrada, corpo gordo e coração doído. Eeeeee, nada melhor parar curar essa dor do que uma coxinha frita na esquina. Nada melhor. Além desse problema, temos o problema do medo constante. Se ladrão chegar, vai correr primeiro pro seu rumo, afinal gordinha não dá conta de correr!!! Vai pra algum lugar, vê a cadeira ou o banquinho e pensa: Vai quebrar, melhor ficar em pé. E diz: Nossa, fiquei sentada o dia todo. Sem falar da questão do biquíni. Gente, prefiro fingir estar com dengue do que ter que colocar biquíni. Super não gosto. Ôôô momento constrangedor! E ainda por cima quando decide viajar pro mato, e tem que fazer caminhadas pra chegar numa cachoeira ou num rio - não preciso falar do quesito: "ofegante".
Mas na minha opinião todo gordo é feliz. Sério. O gordo ama a comida mais que tudo. Eu amo comida. Amo. Nada me dá mais alegria do que comer uma coisa bem gostosa. E nunca vou esquecer de uma professora dizendo que o cérebro do gordo é diferente mesmo, que têm amor pela comida. A pessoa normal diz: - Hoje vou comer arroz, feijão e bife. O gordo, claro: - Hoje eu vou comer um arrozinho, com um feijãozinho e um bifinho… Faz até gestos. Comer é muito bom, é malaviloso.
Enfim, faz tempo que luto contra a balança, Deus Pai. Nem sei há quanto tempo, mas imagino que desde os dezesseis, dezessete (época que surgiu o Big Tasty do Mc - a boca até encheu d'agua) e já passei por todas as dietas do mundo, acreditem: a dieta da calça, da proteína, da "USP", da sopa, da lua, dos três aaa (ar, água e alface), xis. Inúmeras, e sempre corria, fazia alguma coisa, mas sempre que chegava no marco de dois meses, tudo ia por água abaixo. Era uma pessoa dizer: Você emagreceu (e claro, pensar: duas gramas, talvez), que eu já me via como a Gisele Bündchen e pensava: TO MAGRA! E voltava a minha vida boêmia. A boemia. A boemia. Essa, sem sombra de dúvidas o principal inimigo que eu tive e tenho que enfrentar. Mas eu não passo um dia sem receber um telefonema do tipo: Bora beber. E eu acho que nos últimos anos eu fiquei saindo e bebendo durante seis dias da semana. Só não saía na terça porque afinal, terça não é dia de beber, né? Mas tirando ela, todo dia era dia. E bebia. E bebia. E claro, pit dog depois da balada, as quatro da manhã era lei: e não podia ser menos que um combo do Bulldogs de cheddar, fritas, molho verde e refrigerante. Quando algumas semanas terminavam, eu parava pra contabilizar o saldo e encontrava três idas à pit dogs. É muita caloria sendo ingerida. MUITA.
Sem contar dos amigos. Não sei se Deus quis que eu fosse forte e acabou por colocar no meu caminho só maloqueiro bêbado. Nunca ninguém me ligava pra dizer: Saladinha hoje? (quando ligava também era motivo pra acabar a amizade). No mínimo era: Espetinho, cerveja? E as amigas mais íntimas gostam demais de cerveja então o passeio era bastante duradouro e caro. Muita cerveja. E cerveja incha. Lembro de uma segundona, meu irmão indo me buscar no trabalho, e hora que eu cheguei no carro ele disse: Djow do céu, você tá inchada! E quanto mais você bebe, mais fome você tem.. e sempre "aparece um pra testar sua fé" (como dizem os nossos manos do Racionais) e diz: Nossa, que fome, bora comer? Aí a frase ecoa na sua cabeça (fome, me, me, comer, mer, mer) e você se rende. E ao invés de pedir uma coisa assada.. "Desce um torresminho aí, não esquece o limão". E claro, exercício físico, só correr pra cama, depois pro banheiro, e etc.
GENTE, não tem milagre que adiante e nem santo que escute. Não precisa ser nutricionista nem nutrólogo pra perceber a loucura de uma vida dessas (loucura das boas, claro). Eu demorei demais pra ver o quanto isso é "mucho crazy" e pela primeira vez na minha curta vida, eu estou conseguindo manter a dieta por mais de 1 mês. Já estou no quarto. E fiquei muito receosa em fazer esse texto e pensar: Nossa, e se no outro dia eu voltar a engordar? Só que dessa vez é diferente, dessa vez eu nem considero mais dieta. Considero um #rehab. Eu sou doente por comida e bebida, confesso, e pro resto da minha vida eu vou ter que me policiar. E é melhor começar agora do que nunca. Eu to correndo todos os dias, quase. Essa se mostrou minha grande e imensa companheira: a corrida é F O D A (Bats, te amo!). É inacreditável como hábitos saudáveis mudam tudo. Mudam seu humor, sua pele, suas roupas (YES, MOTHERFUCKERS!!!!), sua autoestima que antes nem existia, e etc. Nesse #rehab eu vejo uma salada e eu babo, eu vejo uma coisa gorda e já penso: porra, velho, que tanto de óleo, pra quê isso tudo? E não existem segredos. Tudo o que você está CANSADA de ler é verdade. Os hábitos mudam, graças a Deus. Você não deve viver pra comer e sim comer pra viver. Bem autoajuda mesmo, sabe?
É isso, estou no meu quarto mês de #rehab e eu amo ir a feira (amanhã é dia), comprar um monte de vegetais e cada dia criar um wrap diferente, uma salada diferente, um molho diferente e uma sopa diferente. A internet existe pra isso e eu tenho inúmeras divas que me mantém firmão na causa e os fit tumblrs são inacreditáveis também. Me perco horas vendo tudo, aprendendo tudo. Minhas amigas amadas que sempre me influenciam pro lado bom da coisa, que são amigas da gordinha (futura-ex-gordinha) mais feliz do mundo! Sempre com palavras boas e duras. Amo-as. Sem falar das que se encontram na mesma que eu.
O texto de hoje foi só pra falar por cima. Um dia vou fazer um agradecendo as pessoas que hoje eu devo muita coisa, mesmo que algumas delas nem saibam que eu exista. E também escrevi porque eu quero que todos sejam testemunhas e se daqui a algum tempo vocês me encontrarem na rua e eu estiver gordinha novamente (não que eu já esteja magra, gente, pelo amor de Deus!!!) eu quero que vocês já cheguem me dando TAPA NA CARA (oficialmente permitido, heim - porém, reler a condição). Não tenho uma meta específica. A mais específica que tenho é: usar um short, olhar pras minhas coxas e pensar: UAU!! (como podemos perceber, levará um tempo ainda - but keep it up!!!!)
Beijão de quem cansou de escutar: "nossa, ela é bonita, maaaasss..".
MY ASS, GALERE.
Fui.
Marilia Bilu, 7 quilos mais magra e mais feliz. Aeeeee!
(nenhuma foto é minha).
xoxo.