terça-feira, 23 de novembro de 2010

ALL MY LOVING TO PAUL.



A saga começou às cinco e meia da tarde. Pensei, ‘caramba, vai ter muita gente lá desde semana passada, então nem vai adiantar nada, vamos no horário da abertura dos portões.’ Mas eu não imaginava aquela fila. A fila tava demais. A fila tava algo sobrenatural. Eu nunca fiquei numa fila daquelas. E pior do que olhar pra trás, onde a fila dava curvas e subia ruas, era olhar pra frente, onde ela não andava e ainda tinha tanta gente que eu nem imaginava onde ela terminava. E foi na fila que já conversamos com tantas pessoas, e víamos a diversidade delas: eram crianças, adolescentes, adultos, idosos. Tinha de tudo. Gente de toda parte do Brasil. E a maioria delas com camiseta dos Beatles, claro. Todos os modelos que existem eu vi nesse dia. Todas, todas, todas. Os ambulantes gritando “cerveja, água, refrigerante”, e “faixas, camisetas, chaveiros do Paul”. Tinha de tudo.

 




A fila começou a andar. Eu e a Letícia na espera, e imaginando como estávamos, mais uma vez, sendo idiotas de pegarmos aquela fila. Comprovamos hora que chegamos ao portão: seria tão fácil furá-la. A galera passando, e os carros atrapalhando, a bagunça momentânea era perfeita pra esse furo. Mas, preferimos mais uma vez, agir com honestidade. Que raiva dessa tal de honestidade.
Chegamos depois de duas horas. Entramos. Pela segunda vez no Morumbi eu já quase chorei. Era tanta gente. Que coisa mais linda do mundo. E tiramos a mesma foto que tiramos no show do Aerosmith em 2006: naquela rampa sagrada. 





Chegando na pista, tentamos ir pra frente, e conseguimos, porque a dupla Letícia e Marília não é mole não. O único problema é a nossa altura. Nessas horas eu queria ter 2 metros de altura e ainda usar salto. E fomos entrando, entrando, entrando, entrando. E nessa caminhada a gente conversou com tanta gente que não ta no papel. Foi muito engraçado, legal e divertido. Que povo engraçado. Paramos num lugar, ficamos entravadas. Era impossível seguir a diante. Arranjei desculpas, mas o pessoal da frente não permitiu minha passagem. A Letícia me olha e diz: “Marília, só se passaram vinte minutos, véi.” Whaaaat? Parecia que demoramos dez horas pra andar aquele tanto, foi tanta gente, tantos passos, tantas desculpas, tantos apertões e principalmente tantas encoxadas: show assim não tem jeito, temos que ir preparadas.
Até que paramos pra pensar, e finalmente tivemos uma idéia brilhante: “Cara, a gente não vai conseguir ver nada daqui. Olha esse tanto de gente!! Vamos pro fundo mesmo?”
Era Deus iluminando a nossa mente. Fomos pro fundo, onde já não tinha ninguém na pista.

Hora que o Sir Paul McCartney entrou foi o choque. Como poderia ele estar ali? Eu ainda não acreditava. Eu ainda achava que aconteceria alguma coisa: eu perderia o ingresso, ele não viria, choveria muito. O medo era demais. Hora que ele entrou, eu não segurei, e mais uma vez, a manteiga derretida que eu sou se expressou.
Foi lindo. Foi lindo. Foi lindo. Aquele telão gigantesco e todo aquele espaço do meu lado pra eu pular foi o suficiente. O choro foi compulsivo, com aquelas tosses que tiram o ar e com aquelas lágrimas que não param de cair. Tudo o que eu pensava era: EU ESTOU VENDO UM BEATLE. EU ESTOU VENDO O MEU BEATLE FAVORITO.
Caralho, isso é muita coisa. Os caras me fizeram gostar de rock’n’roll. Os caras revolucionaram o mundo da música. Os caras revolucionaram a história cultural. E tinha um lá, na minha frente.

Eu nunca vi uma interação tão grande com uma platéia. Eu já fui em muito show, e os comentários do cantor no máximo eram: “Good Night, thank you for being here tonight! You are awesome!”. Paul McCartney se superou. Ele não deixou que duas músicas tocassem sem entre elas fazer um comentário. Eu nunca ouvi tantos “Thank you” na minha vida: ele é a representação perfeita de um lord inglês. A educação dele era supreendente, envolvente. Deixou a platéia toda com a boca aberta e com muitas lágrimas nos olhos.
A platéia não ficou pra trás. Era tanta gente, mas tanta gente, que eu nunca vi algo parecido. Claro que a quantidade de pessoas no SWU também foi impressionante, mas eu não conseguia ver esse tanto de gente. No Morumbi não. As arquibancadas eram o cartão de entrada dessa imagem que vai ficar guardada pra sempre: não tinha espaço pra mais uma pessoa. Estava lotada, bonita, barulhenta. Foi lindo. A pista também estava toda cheia, e eu, que estava bem atrás, via toda a multidão.
Junto com a platéia e o cantor, estava a lua. O céu estava impecável. Que chuva que nada – beijos para os vendedores de capa de chuva, que torceram tanto para que chovesse – até São Pedro queria ver esse show! Então foi uma combinação perfeita, que eu não sei o que estava mais bonito: o palco, a platéia imensa ou a Lua cheia no céu, iluminando o Morumbi. Foi tudo maravilhoso.




 Hora que Paul McCartney terminava uma música, a salva de palmas era alta demais. O barulho era ensurdecedor. O povo estava delirando. Mas nada se comparava ao momento em que ele começava ou terminava uma música dos Beatles. Eu lembro que quando via os vídeos antigos dos Fab4, eu ficava impressionada em como as meninas gritavam: era demais, era loucura. Foi mais ou menos a mesma coisa. Que gritaria, que adoração. “Venus and Mars” / “Rockshow”, “Jet” (uooooo ooo uoooooo Jet!!!) “All My Loving” iniciou a  fase antiga, e logo que ela acabou, a galera da frente começou um coro muito alto com “she loves you yeah yeah yeah” e logo parou. Mas valeu a pena. Pessoal da frente deu um show! Depois veio “Drive My Car”. Quando começou "Long and Winding Road" o choro continuou e ficou até mais forte. Que coisa mais linda. "Let Me In" me deixou arrepiada: essa música é muito boa. "I've Just Seen a Face" fez a Neguinha pular horrores e cantar a letra toda. "And I Love Her", "Blackbird" que eu não preciso dizer como eu me senti: ALL YOUR LIFE, YOU WERE ONLY WAITING FOR THIS MOMENT TO ARRIVE!!! … ALL YOUR LIFE, YOU WERE ONLY WAITIN FOR THIS MOMENT TO BE FREE!!! O pessoal ficou todo em silencio escutando essa música, e Paul McCartney tocando e cantando, e os passarinhos assoviando no fundo. MARRY ME PAUL MCCARTNEY!!!!!!!
"Here Today" que segundo ele, era ‘Para seu amigo John’ foi linda. "Dance Tonight", "Mrs. Vanderblit", "Eleanor Rigby".
“Essa é pro meu amigo George”. Eu pensei: é Something. Só que o instrumento na mão dele era tão diferente, que pensei: não, não pode ser ué. E começou a tocar aquela coisinha, e de repente: SOMETHING IN THE WAY SHE MOVES… ele queria enfartar a galera, eu tenho certeza. Quase conseguiu. Na hora do “You’re asking me will my love grow… I don’t know, I don’t know!!" o grito era tão alto, tão alto, que São Paulo inteira escutou. De Goiânia não deu pra escutar não? E eu não sei como ele conseguiu cantar essa música com aquele instrumento na mão dele (não sei o nome gente, me perdoem os especialistas da vida.). Só o Paul consegue. Só ele. Só ele. 




“Sing the Changes", "Band on the Run", "Obla Di Obla Da", "Back in the USSR". Como a gente dançava, como a gente pulava. Que diversão!! Que delícia!! Que inesquecível!!
"I Gotta Feeling", "Paperback Writer" (loucura, loucura!!), "A Day in the Life".
Os balões brancos em “Give Peace a Chance” foi melhor ainda. Que lindo quando a câmera afastou e aquele tanto de balão branco voando no ar apareceu. Give peace a chance, people.





E no piano, e QUE piano, Paul McCartney inicia… "Let it Be". Gente, foi inexplicável. Eu tenho certeza que todos lá sabiam a letra dessa música. E com ela, todo mundo mandou embora muita coisa ruim. Let it be, let it be.
Já estava muito bom. O telão central nos proporcionou imagens maravilhosas. Eu não esperava mais nada. Mas, de repente, ao cantar: "SAY LIVEEEEEEE AND LET DIEEEEE", começou uma explosão de fogos, e ao mesmo tempo uma explosão de imagens tão fudidas que eu pensei: “Vai pegar fogo!” Foooooooi massa demais!!! A platéia entrou em extâse. E aquele piano forte, os fogos brilhando no céu, as imagens do telão pegando fogo. Foi de matar. Foi de matar.




Depois disso, sem esquecer de agradecer e de se comunicar com a platéia, "Hey Jude"
começou. Cara, eu não preciso dizer a emoção né? Como que eu tava lá? Como que ele tava lá? Como que eu tava escutando Hey Jude ao vivo? OOOOMMMMGGGG!!!! Naaaaaaaaaa, naaaaaaaaaaaa, naaaaaaaaaa naaaaaaaaaa narrarararararaaaaaaaaaaaaa. Anão, eu quero chorar mais!!! Foi lindo. Que show da platéia, que show de tudo.
E entre saídas e entradas, veio "Day Tripper", "Lady Madonna", "Get Back".
Outras saída, e é claro, voltou com "Yesterday". COMO ELE NÃO CANTARIA YESTERDAY? Ele e o violão. E nós.

“VOCÊS QUEREM ROCK?” e começou "Helter Skelter" (KILL MEEEE PAUL MCCARTNEY!!!). O telão nos deixou tontas. Aquela confusão de imagens, retratando perfeitamente o peso dessa música. E eu não parava de pular, tocar air guittar, air drums, gritar, e choraaar.
"Sgt. Pepper" finaliza o show, depois de tantos agradecimentos.

Enfim, Paul tocou por quase três horas. Tocou músicas de toda a sua carreira e ele satisfez a platéia toda. Eu nunca vou encontrar alguém que não tenha gostado desse show. Não tinha como. A voz dele continua a mesma. O jeitinho dele continua o mesmo. As carinhas que ele fazia logo após cada música era de matar. E quando ele se encostava no piano? Ah não, Deus, por que? Ahahahahahahaha foi muito bom.


Dava vontade de ir la no palco, abraçar e falar: OBRIGADA E NÓS TE AMAMOS.

Os adjetivos não são suficientes, e eu nunca vou conseguir transmitir o que eu senti. Só sei que agora, toda vez que eu escuto alguma música dele, me dá vontade de chorar de novo. Eu ainda não acredito que eu fui. Parece que foi um sonho. Que tranqüilidade, que paixão. Nesse show rolou um respeito mútuo, todo mundo sabia o significado do que iríamos assistir. O cara nunca foi vaiado na vida, eu tenho certeza. E nunca vai ser. Ele é bom. Ele é muito bom. E ele me proporcionou o melhor domingo da minha vida.

Não posso deixar de contar a ultima coisa. Em 2006 ao entrarmos nos corredores para irmos embora, todo mundo começou a cantar o hino do São Paulo. Eu não sou tricolor, e nem de futebol eu gosto, mas aquilo me deixou maravilhada: ficou tão bonito todas aquelas pessoas, naquele espaço fechado cantando a mesma coisa. Ficou lindo e muito alto. Dessa vez, ao entrar nesse mesmo corredor, aquela multidão que em qualquer outro lugar daria briga, empurrões e porrada, começou a cantar em coro o mesmo Naaaaaaaa Naaaaa Naaaa narararaaraaaaaaaaa Hey Judeeeeeeee. Foi de arrepiar. Foi pra fechar com chave de ouro. Ouro maciço.

Eu nunca vou esquecer esse domingo do dia 21 de Novembro de 2010. Eu já fui em muitas festas e muitos shows, mas igual a esse eu nunca vi,  e eu sei que nunca mais vou ver, afinal era ninguém menos do que Paul. 





Amor eterno, amor sem fim.