domingo, 26 de dezembro de 2010

A NOITE DE UM BOÊMIO


 

Planejar, durante todo o dia, a roupa da noite.
Combinar com as amigas. Tentar falar com os amigos.
Ficar ansiosa se vão ver os amigos ou não.
Encontrar as amigas. Quem sabe, encontrar os amigos.
Por força do destino, por sua força, por coincidência, encontrar os amigos.
E conversar. E conversar conversa-fiada.
Conversar sobre a roupa que comprou.
A festa que perdeu.
O texto que escreveu.
A viagem que cancelou.
O coração que abalou.
O filme que assistiu.
O livro que aderiu.
Conversar sobre a faculdade. As fofocas da faculdade. As fofocas de fora da faculdade.
Sobre dieta.
Sobre maquiagem.
Sobre rock’n’roll.
Sobre música, muita música.
E brincar com tudo.
E rir mais ainda. Rir exageradamente. Dobrando o corpo de tanto rir.
E dançar. E balançar, nem que sejam só os ombrinhos. Pra frente e pra trás.
E mesmo que a música não continue a mesma, você estará lá, no mesmo movimento.
E beber. Cerveja, catuaba, pinga, vodka, energético, água.
E fumaça. Muita ou pouca. Espessa ou não.
Mais água, por favor.
E mais risadas, claro.
Voltar pra casa, trocando pernas, subir no elevador se olhando no espelho.
A maquiagem toda. Cadê? Olhar pro seu próprio olho.
Imaginar o que os outros pensam quando eles olham pro seu olho.
Entrar em casa, trocando as pernas. No maior silêncio.
Com medo de ser traída por qualquer movimento:
O celular, que não tocou a noite inteira, tocar.
Esbarrar nos quadros das paredes.
Esbarrar, também, nas poltronas no caminho.
Deixar a bolsa cair.
Silêncio. Silêncio. Medo de, de repente, clic, a luz acender.
E lá está a sua mãe. Te olhando com aquela cara.
Cara de quem quer dizer: Que vergonha!
Mas que, imagino, no fundo, no fundo, significar: Que saudade!
Mas não. Caminho limpo. Pegar um copo de água
Tirar a roupa. Jogar no chão, ou em cima da cadeira.
Abrir as portas da sacada, pro ar ficar mais “ar”.
Pegar o travesseiro. O cobertor, mesmo que esteja quente.
E claro, o iPod. Inseparável companheiro!
Deitar no colchão, que você julga ser o melhor do mundo.
Eu tenho certeza!
Colocar a cabeça no travesseiro, dar aquela respirada que você não deu o dia todo.
Estava ocupado demais pra reparar como a queria. Como a necessitava.
Colocar aquela sua música. Num volume ensurdecedor.
E pensar, que, pronto, você viveu outro dia.
Outro dia maravilhoso. E começa a relembrar de tudo que te aconteceu.
E agradece. Por mais que diga que não acredita em um Deus, agradece.
Seja Ele uma força, a natureza, o Deus cristão ou um Deus hindu.
Você agradece, por que no fundo, no fundo, só essa força seria capaz de te conceder tamanha felicidade.
E relaxa. E pensa no dia seguinte.
E pensa no por que, cargas d’água ele foi dizer aquilo.
Ou por que ele fez aquilo.
Ou como você fez aquilo!?!?
Ou como você consegue mandar tão bem na sinuca.
Ou em como seus amigos são engraçados.
Ou em como, talvez, “sua vida esteja se tornando um Sex and the City!”.
E sobre seu futuro. Claro. Sempre imaginando o futuro.
E nessa enxurrada sem fim de pensamentos, você cai naquele mar escuro.
Poucas horas depois, você acorda. Ou é acordado.
E ainda, sem abrir os olhos, lembra-se da noite anterior.
E, com certeza, lembrando-se dela, abrir aquele sorriso.
E só depois, abrir os olhos.
E pedir, para que esse dia que amanhece, - ou entardece, seja tão bom quanto o seu ontem.


marilia bilu.